ESTOICISMO, DAS VIRTUDES VEM A FELICIDADE

30 de novembro de 2022

O Estoicismo ou Escola Estóica é uma doutrina filosófica fundamentada nas leis da natureza, que surgiu na Grécia no século IV a.C. (por volta do ano 300), durante o período denominado helenístico (III e II a.C.). Foi fundada pelo filósofo Zenão de Cítio, atual Lárnaca, ilha de Chipre (332 a.C.-265 a.C.) e vigorou durante séculos (até III d. C.) tanto na Grécia, quanto em Roma. O termo “Estoicismo” surge da palavra grega “stoá poikile”, que significa pórtico pintado, local dos ensinamentos filosóficos, que ficava próximo da “Ágora” de Atenas.

 

Para os estoicos, a perfeição humana estava fundamentada na ideia de que estamos intimamente ligados à natureza. Assim, devemos negar alguns desejos para a realização de uma vontade guiada pela razão, em conformidade com essa natureza. Ou seja, uma corrente filosófica onde a "virtude" depende da vontade subordinada à razão, sendo considerada a base para se atingir a felicidade (eudaimonia).

 

Além disso, a escola estoica influenciou o desenvolvimento do Cristianismo, a partir do conceito da providência. Para ambos, há uma razão universal divina que regula tudo o que existe. A aceitação dessa providência, para os estoicos, fica a cargo da vontade orientada pela razão e a união do indivíduo com a natureza. Já para a doutrina cristã, dependia da abdicação do pecado e de uma vida devotada à fé e a ligação do indivíduo com Deus.

 

Fases do Estoicismo

 

O estoicismo está dividido em três períodos:

 

Estoicismo Antigo (stoá antiga): período mais focado na doutrina ética. Os maiores representantes do período foram os filósofos Zenão de Cítio, que escreveu mais de 20 livros, sem nenhum deles preservado. Consta que criou a corrente filosófica depois de um naufrágio, no Mar Mediterrâneo, quando perdeu tudo que transportava, pois era mercador. Salvando a vida, entendeu e concebeu a base do pensamento estóico: “Agora que naufraguei, enfim embarquei em uma boa jornada”;

 

Cleantes de Assos, (330 a 230 a.C.), discípulo de Zenão, nasceu em Assos, atual Turquia, sendo sua principal obra “Hino a Zeus”. Importante no desenvolvimento do estoicismo e da introdução do conceito do materialismo e do panteísmo na escola, até na alma;

 

Crisipo de Solos (280 a 208 a.C), grande lógico, estudou as proposições estóicas e combatia as falácias. Escreveu, sozinho, mais de 700 livros, sendo que nenhum foi preservado, apenas fragmentos. Neles teria sistematizado os pensamentos de Zenão, sempre com a moral pura e elevada, bem como a razão devem governar a vida.

 

Estoicismo Médio/Helenístico Romano (stoá média): período mais eclético, donde se destacaram os filósofos Panécio de Rodes (185 a 110 a.C), com papel importante entre os romanos, com ideias platônicas, influenciando até Cícero, com sua obra “Sobre os Deveres”.

 

Posidónio de Apaméia (135 a 51 a.C), polímata, acreditava que a alma tinha parte irracional. Filósofo, historiador, astrônomo e geólogo grego estudou em Atenas, local onde começa a se influenciar pelos ideais estoicos sendo, mais tarde, embaixador em Roma. Seu pensamento foi baseado no racionalismo e no empirismo.

 

Estoicismo Imperial Romano (stoá nova): chegou em Roma, no 1º e 2º séculos da Era Cristã, de cunho mais religioso, com obras concretas que chegaram até nossos dias, sendo seus principais representantes os filósofos Sêneca (4 a 65 a.C), nascido em Córdoba-Espanha, mas que se tornou um dos maiores intelectuais de Roma e assim escreveu: “Eu vou fazer isso e mais aquilo, se nada acontecer que possa se tornar um obstáculo para minha decisão. Eu vou cruzar o oceano, se nada me impedir.”  Sêneca focou nos conceitos sobre ética, física e lógica para o desenvolvimento da Escola Estoica. De sua obra destacam-se os Diálogos, Cartas e Tragédias.

 

Epicteto (55 a 135 d.C) Hierápolis, Frígia, atual Turquia, à época extremo oriente do Império Romano. Era escravo de seu mestre Epafrodito, o secretário de Nero. Escreveu “Enchiridion”, manual de reflexões para as dificuldades diárias e também “Discursos/Diatribes”, únicos documentos ainda existentes que resumem suas ideias. Sua filosofia soa como o que há de melhor na psicologia contemporânea, como vemos na Prece da Serenidade: “Concedei-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso e a sabedoria para reconhecer a diferença”.

 

e Marco Aurélio (121 a 180 d.C) autor de “Meditações”, de como lidar com as adversidades, mesmo com abordagens mais religiosa que científica. Último imperador romano sábio/filósofo era o homem mais poderoso da terra no seu tempo.

 

Diferença entre Estoicismo e Epicurismo

 

Quando tratamos de observar essas duas correntes filosóficas, fica claro que elas diferem em alguns aspectos. O Estoicismo, baseado numa ética rigorosa de acordo com a leis da natureza, assegurava que o universo era governado por uma razão universal divina (Logos Divino). Dessa forma, para os estoicos, a felicidade era encontrada na dominação do homem ante suas paixões (consideradas um vício da alma) em detrimento da razão.

 

Os estoicos cultivavam a perfeição moral e intelectual inspirada no conceito de “Apatheia”, que significa a indiferença em relação a tudo que é externo ao ser, quando estamos livres de perturbações emocionais.

 

Por sua vez, o Epicurismo, fundado pelo filósofo grego Epicuro (341 a.C.-270 a.C.) possui uma vertente relacionada ao Hedonismo. Portanto, ligada à busca dos prazeres terrenos, desde a amizade, o amor, o sexo e os bens materiais.

 

Para os epicuristas, diferente dos estoicos, os homens são movidos por interesses individuais e o dever de cada um está em buscar nos prazeres a felicidade.

 

Para os estoicos, a alma deveria ser cultivada, enquanto os epicuristas não acreditavam na reencarnação. Por fim, para os estoicos a virtude representava o único bem do homem, o mais importante, enquanto o epicurismo estava apoiado nos prazeres.

 

DIVISÃO DO ESTOICISMO, como uma árvore:

 

Física (raiz), o que é a realidade, a alma, a essência do pensamento estóico;

 

Lógica (tronco), critérios para escolher entre a verdade e o falso;

 

Ética (frutos), ações boas para se obter a eudaimonia, bons resultados.

 

VIVER DE ACORDO COM A NATUREZA

 

O universo é um grande organismo vivo, assim como a alma, o amor, o vício e a virtude. Os corpos são decorrentes do sopro divino, um logos universal, que forma a physis. Tudo é material, um corpo (uma pedra, uma árvore, uma cadeira), assim como as ideias do bem, do justo, virtude e até de Deus.

 

Panteísmo: tudo é Deus, tudo tem propósito, que rege o tudo, até o mal, pois até nele há um propósito. O homem é corpo, matéria, mas também é divino, Deus está nele, compondo um grande organismo vivo.

 

“Tudo que suas estações produzem, ó natureza, é fruto para mim.” (Marco Aurélio).

 

ÉTICA ESTÓICA

 

Pode ser resumida com a expressão determinismo, onde o destino é o elemento da vida, reflete a racionalidade do real, pela razão universal. Tudo tem propósito, até o que nos acontece de mal, mesmo praticando sempre a virtude. O homem é um microcosmo, parte do macrocosmo. Tudo o que nos acontece é para nosso melhor. Concentre-se no que você controla e aceite o que não controla. A vida deve seguir a natureza. Pense no que pode dar errado e esteja pronto. Neste ponto, lembro das lições da minha mãe: “Esteja sempre alerta, vigilante e nada de ruim te acontecerá” (do livro Entre os Molossi e o Vinho, página 133).

 

O segredo da felicidade é aceitar as coisas como elas são, agir de acordo com a natureza das coisas, em equilíbrio com o cosmos. O Amor Fati é a fórmula para a grandeza humana. “Aceite as coisas que o destino lhe trás, e ame as pessoas que o destino te aproxima, mas faça isso de todo o seu coração” (Marco Aurélio). Trate cada momento – não importa quão desafiador ele seja – como algo a ser abraçado, não evitado.

 

O segredo da vida está nas virtudes. “Um bom caráter é a garantia de eterna e despreocupada felicidade” (Sêneca).

 

OS TRÊS PILARES DO ESTOICISMO:

 

1 – INTELIGÊNCIA/SABEDORIA – conhecer o universo, a realidade, como tudo funciona e aceitar suas regras;

 

2 – CORAGEM/TEMPERANÇA – enfrentar as adversidades, fazendo o que se deve e evitando o que não se deve fazer, porque tudo tem um propósito. Temer sim, mas aceitar o que nos acontece;

 

3 – JUSTIÇA – entendendo como tudo funciona, como devemos nos comportar, temos que tratar os outros com justiça, de acordo com o cosmo. Esta ataraxia, ou imperturbabilidade da alma, é sinônimo de felicidade. Temos que ter atitudes serenas, dizer ao universo que estamos prontos. Somente o sábio perfeito atinge a ataraxia. Não vivemos no paraíso e, por isso, as virtudes, a serenidade e a imperturbabilidade diante do mundo nos leva à felicidade. É difícil, mas é possível.

 

Neste ponto, a filosofia estoica é muito similar ao Cristianismo, que prega a vontade de Deus, seguir a vida que nos é dádiva concedia. Os estoicos influenciaram – e muito – os primeiros cristãos, bem como filósofos mais recentes, como Descartes, Spinoza e até Nietzsche, que chegou a se opor ao Cristianismo em algumas questões.

 

Na ética estóica ações são mais valorizadas que palavras, mais prática que teoria é o que se prega. Vida autoconsciente, gostando do que se é, podemos definir onde queremos chegar. “Não perca tempo discutindo sobre o que um bom homem deve ser. Seja um”. (Marco Aurélio).

 

Faz parte do poder de cada pessoa o que depende de sua vontade ou liberdade. O resto está condicionado à: INFLUÊNCIA PARCIAL – saúde, patrimônio, relacionamentos e o fruto das ações e pensamentos que tivermos. INFLUÊNCIA PEQUENA ou INEXISTENTE – origem, tempo e todo tipo de circunstância externa.

 

Ame o seu destino, porque não há outro. Zenão concebeu as bases do Estoicismo após um naufrágio, que lhe poupou a vida e lhe concedeu a oportunidade de atracar em novas terras.

 

O SÁBIO É IMUNE AO INFORTÚNIO!

 

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